Um homem de palavra

MUNDIAL F1 PROFESSIONAL ORION - ETAPA 04 - GRANDE PRÊMIO DO AZERBAIJÃO - SEASON 02

Um homem de palavra

Quando uma vitória é bem mais que simplesmente subir no pódio e somar pontos importantes, significa que existe uma história por trás dela, algo muito significativo e que na maioria das vezes ninguém faz ideia até que precise vir à tona como contexto de alguma decisão tomada num momento tenso. Nessas situações, vencer vira um misto de alma lavada com dever cumprido, um alívio por termos tomado a decisão certa e conversado também com as pessoas certas. Vale muito a pena permanecer e transformar o novo momento em motivação.

Alan Daniel é um homem de palavra, sua vitória no Azerbaijão é um recomeço.

Parar e sair de cena por um tempo, foi isso que ele decidiu fazer, e logo num momento tão delicado do campeonato onde brigava firmemente pelo título. Infelizmente algumas situações da vida real nos pressionam tanto que não tem como prosseguir, não até encontrar uma saída, aquela que não custa nada e vem de uma palavra amiga. Alan estava com o estresse no teto, problemas pessoais batendo na porta pedindo passagem, sem qualquer tempo para treinar e vendo seu rendimento cair de produção. Abandonar era a melhor saída, conversar com os companheiros, pedir desculpas e se afastar, afinal de contas, correr só por correr, prejudicar a si mesmo e a equipe não é algo justo. Acredite, poucos pensam assim.

Aqueles que pensam no próximo de verdade não iriam deixá-lo de fora, Tocaia conversou com Alan, abriu as portas da McLaren. Veio o convite de Arruda para retornar integrando a Mercedes no lugar dele próprio ao lado de Constantino. Todos os que puderam o disseram para esfriar a cabeça e voltar, ele é importante em todos os sentidos. A conversa derradeira e que recolocou Alan no jogo foi a que teve com Fábio, o narrador Fábio Bispo. Experiente em quantia e de conversa franca, Fábio soube alinhar os pontos que afligiam Alan, tanto que o próprio Alan refere-se a ele como alguém que foi um “paizão” naquele momento, sendo fundamental para sua volta.

A Mercedes foi o destino. Nada melhor do que ressurgir do modo mais competitivo possível, numa pista sensacional, contra a Red Bull de Tiago Luz e Feliphe Santos, adversários diretos. Mesmo sem garantir a Pole, que foi conquistada magistralmente por Feliphe, as coisas mudaram e mudaram muito durante a prova. Na chuva, Feliphe foi um verdadeiro monstro, tranquilo e muito rápido, abrindo bastante para segundo colocado, até porque ele precisaria garantir uma vitória, um resultado amplo, já que Tiago havia largado em 15º por problemas de conexão.

Tiago conseguiu fazer uma prova de recuperação sensacional e chegar em 4º, permaneceu naquela zona sem ser atacado e nem podendo atacar devido aos pneus brancos. Feliphe apostou que a chuva iria mais longe, o que significaria abrir mais vantagem e manter a força no molhado. Não aconteceu.

A pista secou, ele perdeu produção e na volta 29 foi ultrapassado maravilhosamente por Alan que apostou tudo num setup de pista seca. Mercedes, setup acertado e um piloto com sangue nos olhos é sinônimo de vitória. Ele levou os pneus vermelhos ao limite do desgaste até entrar nos boxes, foram 35 voltas com o pé quase encostando no asfalto, sem dar trégua, abrindo o máximo que lhe era possível e mesmo depois de voltar 15s atrás de Feliphe inacreditáveis 1s por volta ou mais eram tirados por Alan.

Volta 43, ultrapassagem de Alan. A ultrapassagem da vitória.

De fato foi uma prova sensacional, que em termos de campeonato não o coloca na liderança, que aliás é muito bem ocupada por seu parceiro Wesley Constantino, outro que anda uma barbaridade. Porém aqui, vencer é bem mais que isso. Alan Daniel é um cara de caráter imenso e de palavras sinceras, que deixa seu comprometimento a equipe em dar seu melhor até o fim, tenho certeza que o fará da melhor forma possível.

O campeonato agradece. Os pilotos agradecem. A Reality agradece.