Silverstone não tem nada ver com selva, aliás a Inglaterra é país de gente educada e cheia de formalidades. Não estou chamando obviamente os pilotos de mal educados, longe disso, apenas vale a comparação de que o terreno inglês mudou de figura na noite de ontem. O nível de competição dos mesmos está bem além de qualquer formalidade, existe sim o respeito, mas em nenhum momento deixam de existir as brigas acirradas e os limites levados ao extremo. Na vida selvagem chamamos de LUTA POR TERRITÓRIO, bem, a pista faz esse papel como nunca.
O campeonato está sim próximo de revelar seu campeão de uma vez, Francisco está com quinhentos pontos, tem uma vantagem muito grande em relação ao segundo colocado, mas além disso e por incrível que pareça suas últimas provas vinham sendo um pouco abaixo do que estamos acostumados a ver de sua pessoa, ele próprio reconhece e não aceita performances de baixo nível. Esse é um dos grandes fatores que fazem dele um piloto completo. Mesmo largando em segundo foi logo no apagar das luzes que assumiu a ponta, e de lá até o fim, foi um passeio. Difícil? Tenso? Com certeza sim, mas quem foi que disse que andar entre tigres seria fácil?
Rodrigo reconheceu com toda a humildade que lhe cabe que largou mal, teve que parar nos boxes e perdeu muitas posições por problemas técnicos, mas mesmo assim tem nas veias o DNA do competidor estratégico e lutador, até porque nem só de andar na frente vive um piloto, e a troca dos compostos amarelos pelos vermelhos o deixaria muito mais veloz, o desgaste seria mais evidente, mas para sobreviver na pista era preciso arriscar. Na transmissão o chamei de puma, rápido, estratégico e agressivo, em dias de caça ele ia até as presas, e assim o fez. Um terceiro lugar muito digno.
Bernardo foi o melhor piloto da prova, voltou a andar bem, conquistou sua posição numa manobra espetacular cortando caminho por entre a abertura de curva de Alex, de Williams deu um show, segurou uma pressão absurda do piloto da Haas, que foi não menos importante, mas uma fera em toda a corrida. Dois gigantes, que fizeram de seus carros rinocerontes fortes e dificílimos de serem derrubados. Haja fôlego para tanta luta. Mas o Francisco, é quem entre as feras? Ora, ontem ele foi o guia turístico, onde todos o seguiram para ver o passeio, que não foi nem por um segundo tranquilo, mas todos os guias tem de ser experientes, afinal só feras estão ao seu redor, e qualquer descuido é fatal.
Mauricio Klippel